domingo, 15 de novembro de 2009

14. Novembro. 2009

Os planos pareciam carregar melancolia, mas na verdade até acabaram por ser, de certo modo, proveitosos.

Tal como combinado, quatro das amigas da minha mãe e os respectivos filhos vieram cá almoçar.

Por entre os presentes, haviam duas estranhas ao meu olhar. Nunca as tinha visto antes mas à primeira vista, percebi que nada tinham em comum: a filha era completamente o oposto da mãe. Enquanto que a mãe era sofisticada, irritantemente sociável e conversadora, a filha preenchia todos os antónimos que se pudessem aplicar à sua mãe.
Assim que chegou, encostou-se a uma das paredes da sala, onde apoiou uma das botas e ali ficou com a sua música, escondendo a face por entre a escuridão dos seus cabelos emaranhados. Pela primeira vez, numa das festas em que a minha mãe tanto exige a minha presença, eu não era a única estranha...
Encontrava-me no outro canto da sala e pouco podia fazer para captar a sua atenção. Aquela atitude intrigava-me e ali permaneci a observá-la. Sabia que, mais tarde ou mais cedo, aquela postura teria que ceder. E assim foi.
Levantou a cabeça e observou o que a rodeava com um ar de desagrado, e assim que fiz parte do seu campo de visão, fitou-me com rancor, ódio, amargura e raiva. Tudo isso me tirou do sério, mas mantive a minha imparcialidade.

Enquanto almoçávamos, todos falavam agitadamente, menos eu e aquela "miúda estranha" que ali não parecíamos pertencer. Assim que acabámos, sentia-me intrigada e sufocada com os olhares arrasadores que me foram enviados, o que me levou a ir apanhar um pouco de ar. Nesses instantes, a "miúda estranha" sumiu.
Procurei-a em todos os recantos susceptíveis a refúgio... E nada!
Apenas quando fui buscar uma camisola ao meu quarto a encontrei. Ali estava. Imóvel, sentada, especada a olhar para uma das paredes.
'Provavelmente este seria o último lugar onde te procuraria...'
'E porque me havias de procurar?' perguntou num tom um tanto arrogante ainda sentada no chão abraçando os próprios joelhos contra o peito.
'Não sei... Diz-me tu... E já agora, posso saber o que fazes aqui?'
'É o teu quarto, não é?'
'É!'
'Logo vi... Reparei que eras a única que estava completamente alheia a tudo durante o almoço... Achei que o teu frete era tão grande quanto o meu. Por isso, achei que compreenderias e me deixarias ficar por aqui...'
'Claro... Fica o tempo que quiseres.'
Como forma de agradecimento, levantou-se retirou um pó branco do seu bolso e dirigiu-se até mim com ele.
'Não, obrigada!'
'Nem sabes o que perdes!'
'Perco o início do meu fim... Sabes, se fosse droga leve, eu ainda compreendia. Mas, isso? Isso é demais, miúda! Não te esqueças que depois pode ser tarde demais... Ainda estás a tempo de mudar o teu rumo... Qual é o teu nome?'
Após acender um cigarro respondeu: 'Uta. Mudei-me para cá há pouco. Estava a precisar de renovar as companhias segundo a minha mãe.'
'Uta, sei que não poderei tomar o lugar dessas companhias, mas se precisares de alguma coisa, já sabes onde moro...'
'Obrigada...'

4 comentários:

Anônimo disse...

Provavelmente foi a única coisa decente que me saiu >.<
Afinal o jantar não deve ter sido mau de todo ;)

Luís Oliveira disse...

Mas eu não sei onde moras, não te posso ajudar :(

sao disse...

parece-me k o jantar tratou de te animar um pouco.

Shane Walker disse...

Luís,

Deixa lá!!! Não há crise! Não estou verdadeiramente a precisar de ajuda! lol!

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