domingo, 6 de dezembro de 2009

05. Dezembro. 2009

Os dias têm-me levado à exaustão que o tempo para desabafos em linhas tem sido abdicado.

Hoje, finalmente o dia parecia calmo e já tinha mesmo planeado um programa comigo mesma. Andava a precisar do meu espaço e hoje parecia ser o dia ideal.
No entanto, durante a tarde tocaram à campainha. Era a Alice.
Já não a via há duas semanas, mas confesso que ainda não sentia muitas saudades... Penso que uma confusão anda a assumir controlo de mim. Tenho dúvidas do que sinto, tenho dúvidas se deva continuar, tenho dúvidas sobre como argumentar...

Entrou e fomos até ao quarto.
'Que tens, Sha?' questionou.
'Nada...'
'Estás distante...'
'Impressão tua... Os dias têm sido agitados, só isso...'
Assim que aproximava a sua face da minha, o som da campainha invadiu-nos e em plano de fuga disse: 'Tenho que ir abrir. Já volto.'
'Está bem... Mas não demores... Tenho saudadinhas tuas...'

Saí do quarto e assim que abri a porta deparei-me com a Uta com um tom ainda mais melancólico que o habitual.
'Que te aconteceu?'
'Preciso de ti, Sha...'
Sem pensar levei-a para o meu quarto e só quando a porta abri me lembrei que a Alice ali estava.
'Quem é esta?' perguntaram em uníssono.
'Alice, Uta... Uta, Alice' apresentei-as.
'Quem é a Alice?' questionou a Uta.
'A Alice é... a minha namorada...'
'NAMORADA? Ah... Desculpa... Se sabia que estavas ocupada nem sequer tinha aparecido. Vou andando, então.' perguntou a Uta confusa.
'Não! Podes ficar! Parece-me que vocês têm muito a esclarecer visto esse teu espanto quanto à veracidade da namorada.' resmungou a Alice pegando na mochila e retirando-se.

Corri atrás da Alice: 'És capaz de parar e me ouvir por um segundo?'
'Hoje não me apetece... Estou farta de andar a ser parva... Decide-te! Não penses que ao fim de semana sou eu e à semana andas enrolada com outra qualquer!'
'Não é nada disso, Al... A Uta é minha colega de turma, só isso...'
'Uma colega de turma que vem a tua casa sem avisar?'
'Alice... Por favor... Anda desnorteada... Mudou-se para cá há pouco... Estou só a tentar ajudar...'
'Tudo bem... Então ajuda a tua nova vítima que eu não atrapalho mais... Até um dia!'

Estava demasiado preocupada com a Uta para ligar aquelas crises da Alice. Corri para o quarto onde encontrei a Uta encostada ao canto do quarto. Aproximei-me, tirei-lhe o cabelo da frente dos olhos a fim de conseguir olhar nestes: 'Que se passa, Uta?'
'Não aguento mais, Sha...'
'De que falas? Queres explicar-me?'
'Posso?'
'Claro!'
Assim que pronunciei esta palavra, acariciou-me a face e levou os seus lábios ao encontro dos meus. Por momentos apeteceu-me desfrutar daquela fracção de minuto que se poderia ter tornado em vários minutos, mas logo de seguida a consciência pesou e afastei-a: 'Uta... Não posso...'
'Porquê?'
'Acabou de sair agora daqui... Lembras-te?'
'Disseste que te podia mostar...'
'Não podia adivinhar...'
Pegou nas suas coisas e saiu porta fora sem uma palavra pronunciar. Sentei-me na cama a pensar como uma tarde tão calma se tinha tornado num verdadeiro tornado, como em apenas uns minutos tinha perdido dois momentos de prazer e como ali tinha acabado sozinha por preocupação e por reflexão...

domingo, 29 de novembro de 2009

25. Novembro. 2009 (continuação)

(Continuação)

Já era tarde quando me decidi a cruzar os lençóis e numa mera lembrança, recordei-me do dizer da Uta. Incrédula de mim mesma e da minha crença naquelas palavras, verifiquei atrás da mesinha de cabeceira, como me tinha pedido.
Uma folha enrolada, ali se encontrava. Por momentos tive medo de cruzar o seu conteúdo, mas a curiosidade era tanta que num gesto inconsciente alcancei a folha e desenrolei-a a fim de ver o seu conteúdo.
Era eu... Era eu naquela folha. Uma imagem de mim a carvão. Aquela jovem artista não parava de me surpreender... Era uma pena que não investisse mais nos seus dotes, pensava para mim. Mas que quereria mostrar-me com aquilo?
Quanto mais pensava, mais me assustava. Após reparar e adorar a perfeição e delicadeza de cada traço, pousei o retrato sobre a mesinha de cabeceira e deitei-me. Havia algo debaixo da almofada. Um bocado de cartão rasgado um tanto queimado e com restos de cinza:

Posso parecer inconsciente,
ou tu mesma sejas inconsciente de mim...
Levar horas a pronunciar uma palavra,
mesmo sabendo que todo o esforço não terá recepção...
Posso ser um erro aqui e ali;
Ter uma infinidade de defeitos na minha complicação...
Mas não te peço desejo,
muito menos amor...
Só quero em ti, um pouco de mim,
Como tenho em mim tudo o que há em ti.

-- Uta --


Senti-me deveras assustada. Queria gostar de tudo aquilo, e a verdade é que gostava. Mas haveriam segundas intenções? Haveria um sentimento para comigo impossível se ser correspondido?

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

25. Novembro. 2009

Tenho andado um pouco atarefada... São trabalhos para realizar, projectos para desenvolver e um grupo que em nada ajuda!

Visto que as meninas do meu grupo, excepto a Uta, não puseram novamente os pés no lugar combinado para a realização do trabalho de geometria, resolvi pôr mãos à obra com a Uta e darmos apenas nós conta do trabalho. Nem eu sabia no que me estava a meter!
A Uta apareceu em minha casa às 16h como combinei posteriormente com a mesma, visto que o ambiente da escola estava tão pesado que pouco ou nada ajudava.
Apresentava comportamentos estranhos, dizia coisas sem nexo e tinha as pupilas completamente dilatadas. Nunca a tinha visto tão alterada e fora da sua sobriedade. Tentei acalmá-la e acalmar-me a mim ao mesmo tempo, mas de nada servia o meu esforço. Começámos a fazer o trabalho, mas todos os seus traços eram demasiado livres para poderem ser apresentados à perfeccionista da Jenny. E a cada traço, um disparate saía boca fora.
Estava a levar-me completamente aos limites, até que os ultrapassou...:

'UTA! PÁRA! OLHA... NÃO ESTÁS EM CONDIÇÕES DE FAZER O QUE QUER QUE SEJA!!! SENTA-TE ALI E DEIXA QUE EU FAÇO! JÁ QUE NEM CONTIGO POSSO CONTAR!!!'
Olhou-me com um certo ódio nos olhos e murmurando algo incompreensível lá se sentou com um bloco e grafite na mão.

Em sossego, mas com os nervos à flor da pele, lá acabei por fazer o trabalho para geometria um pouco às três pancadas, o que nem resultou mal no seu todo...
'Uta... Queres vir ver?'
'Não...'
'Anda lá... Podes sempre dar-me a tua opinião...'
Um pouco contrariada lá acabou por dar uma espreitadela ao trabalho.
'Não gosto! Quer dizer... Para um trabalho de geometria está bom... mas, pessoalmente não gosto de geometria. Já reparaste que a geometria tenta comandar os nossos traços?'
'Mais ou menos...' respondi sem me apetecer pensar.
'Vou andando... Hoje não correu muito bem...'
'Não correu mesmo...'
'Sha...?'
Aquele modo de me tratar assombrou-me. Só a Alice me costumava tratar assim... 'Diz?...' respondi atarantada.
'Logo à noite, antes de ires dormir, procura atrás da mesinha de cabeceira...'
'O quê? Já estás a falar outra vez sem nexo?'
'Não... Podes crer que nunca falei tão a sério... Faz o que te peço... Por favor...'
'Está bem...' respondi ainda sem acreditar.

(continua...)

domingo, 22 de novembro de 2009

21. Novembro. 2009

Passei a noite em branco. Uma confusão desmedida anda a invadir-me sem que eu perceba do que se trata, de onde vem e o que me quer transmitir com tamanho abuso.

Acordei cedo mas acabei por me deixar ficar entre os lençóis na esperança que o tempo corresse. Mas a presença da almofada conduz-me indispensavelmente ao campo da reflexão, possuindo-me de tal modo que poucas são as palavras a apresentar para tal acontecimento. Cheguei a sentir que tudo se tinha tornado demasiado monótono na minha vida. Há falta de uma certa adrenalina, risco, paixão, descontrolo...

Após o almoço, resolvi telefonar à Alice para combinarmos qualquer coisa. Pareceu-me cansada, um tanto revoltada e quase me recusou.
'Hummm... e onde queres ir?' perguntou.
'Não sei. Hoje és tu quem escolhe...'
'Sha, não me apetece sair.'
'Oh! Não digas disparates!!! Tens que arejar!! Não te faz bem ficares aí os dias inteiros metida!'
'Mas nem sei o que sugerir...'
'Ermmmm... Já sei! Ouvi na escola que está no museu uma exposição de arte contemporânea muito rica!'
'A sério? Ok! Então vamos...'
Assim foi. A exposição estava óptima e acabou por nos enriquecer às duas visto que ambas estudamos um recanto do mundo das artes.

Enquanto lanchávamos no café de sempre, a Al sugeriu que eu fosse até sua casa.
'Talvez não seja boa ideia... Os teus pais não gostam muito de mim, Al...'
'Hoje só vou estar eu em casa. Além disso ainda nem fiz o jantar... Podíamos inventar qualquer coisa! Que me dizes?'
'Parece-me óptimo!'

À tardinha, fomos para casa da Al, como combinado. Ajudei-a como prometido, apesar de não ter feito grande serviço, dado que a cozinha não é verdadeiramente o meu forte. Para compensar tal má forma, esmerei-me a pôr a mesa!
Jantámos em paz e sossego o prato maravilhoso que a Al tinha preparado. Arrumámos tudo e assim que nos sentámos no sofá, a Al apoderou-se de mim de uma forma tão descontrolada ao ponto de me levar a atingir um certo estado de excitação que já há algum tempo não sentia a seu lado.
'Parece-me que alguém está a fazer progressos!' provoquei-a.
Não respondeu. Levantou o seu corpo leve de cima de mim e puxou-me pelas golas do casaco. Por entre toques de lábios, fez-me movimentar à retaguarda até chegarmos ao seu quarto e levando-me de encontro a umas tantas paredes pelo caminho.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

20. Novembro. 2009

Foi dia de novidades bombásticas. A directora de turma anunciou que uma aluna pediu transferência para a nossa escola e iria ingressar na nossa turma.
Já passavam uns largos minutos da hora do toque, quando bateram à porta. Era a nova aluna. Todos se viraram para observar aquela chegada.
A maçaneta rodou, a porta entreabriu-se, e dentro de segundos, por ela passava a Uta com o seu ar deprimido de sempre e a sua indiferença para com o mundo no olhar vazio.

'Presumo que sejas a nova aluna!' exclamou a directora de turma empolgada.
'Parece que sim...' respondeu a Uta no seu tom frio de menina revoltada.
'Senta-te! Esta será a tua nova turma! E, turma, esta é a Uta! Espero que se apõem mutuamente e colaborem uns com os outros.'

A Uta acabou por se render e sentar-se à minha beira onde ninguém se voltou a sentar desde que corriam certos rumores pelo liceu.

No fim das aulas, fiquei no liceu. Como combinado, esperava as minhas colegas de grupo para realizarmos um determinado trabalho. Contudo, como já era de esperar, acabaram por não aparecer. A Uta, que acabou por se juntar ao grupo, sentia-se confusa e indignada ao ponto de pensar que não tinham aparecido devido à sua entrada para o grupo.
'Não! Nada disso, Uta... O problema não és tu... O problema sou mesmo eu...'
'O que é que tu fizeste?'
'Digamos que correm uns certos rumores sobre as minhas preferências sexuais...'
'O quê? E não apareceram por causa disso???'
'Penso que sim...'
'Ahah! Então estamos tramadas! Comigo a juntar-me ao clube, aí é que nunca mais aparecerão.'
Não respondi... Na verdade estava demasiado incomodada para tentar compreender aqueles jogos de palavras, quando nem sequer sabia se estes provinham do ser sóbrio existente naquela alma... No entanto, acabei por me deixar estar... A Uta não fala muito, acabando por me transmitir paz, calma e tranquilidade, apesar de toda aquela depressão que aparenta carregar...
Encostou a cabeça no meu ombro e disse: 'Quero voltar para casa, Shane...'
'Se quiseres posso acompanhar-te até lá.'
'Não é essa casa...' rematou fraquejando na voz.
'Então, Uta? Onde está toda aquela força, indiferença?... Sabes que não te posso dar essa casa que tanto queres... Mas posso ajudar-te a gostar um pouco mais deste lugar...'
'Duvido...' respondeu amargamente.
'Vamos?'
'Sim... A minha mãe já deve estar a pensar que ando por aí a snifar!'
'Precisamos de ter uma conversa séria sobre isso...'
'TU TAMBÉM? TENHO TUDO CONTROLADO! NÃO PRECISO DE CONVERSETAS DA TRETA!'
'Uta... Calma... Depois vê-se... Agora anda daí! Eu acompanho-te a casa!'
'Não é preciso...'
'Por acaso perguntei-te se era preciso?'
'Estás muito autoritária... Estás a tentar controlar-me?'
'Não... Estou apenas a tentar perceber até onde consegues ir!'
'Oh! Vamos embora! Que o ambiente já começa a pesar!'

terça-feira, 17 de novembro de 2009

17. Novembro. 2009

A Alice continuava sem responder aos meus telefonemas. Já a conhecia, e sabia que às vezes fazia as suas birras, mas desta vez, a situação já estava a ultrapassar os seus limites... Estaria tudo bem? ou Teria acontecido algo?
A preocupação já apertava, pelo que resolvi ir a sua casa. Não sendo fim-de-semana, a Alice deveria estar para o norte, onde estuda de momento. Estava ciente do disparate que seria ir a sua casa, onde provavelmente apenas estariam os seus pais. Mas toda aquela espera inquietava-me e sem reflectir acerca das consequências, toquei à porta daquela casa de onde outrora já tinha sido expulsa.
Dentro de segundos, abriram a porta. Era a mãe da Alice.

Engoli em seco e tentei ser educada: 'Boa tarde...'
'Só agora? Há coisas que não entendo mesmo!... Até já estava aliviada enquanto pensava que finalmente tinhas deixado a Alice viver a sua vida...'
'Desculpe se a desiludi... Mas não venho aqui discutir isso... Queria saber se está tudo bem com a Alice...'
'O QUÊ??? TUDO BEM??? A minha filha quase morria!!! E SE HÁ ALGUÉM CULPADO NO MEIO DISTO TUDO, EU PRÓPRIA SEI QUEM O É!!!'
Fiquei completamente atordoada enquanto um certo sentimento de culpa tratava de me invadir.
'Será que a posso ver?'
'Não devia! Mas sei que na verdade é isso que a Alice quer. Já sabes onde é o quarto dela...'
Agradeci e desesperadamente corri para o quarto. Respirei fundo, tentando acalmar-me, abri a porta, e ali estava ela. Deitada, imóvel, com um ar doentio, apagado e vazio.
'Que se passou, linda?'
'Finalmente lembraste-te!... Estava a ver que só para o ano...'
'Desculpa...' respondi beijando-lhe a testa não deixando margem para apresentar as minhas desculpas. 'Podes contar-me o que se passou?'
'No dia em que saí disparada de tua casa... Aconteceu...'
'Aconteceu o quê?'
'Tu sabes o que acontece quando perco o controlo...'
'Voltas-te a...???'
Peguei-lhe num dos braços e levantei a manga que o cobria. Não queria acreditar no que via... A Alice tinha voltado a cair naquele ciclo vicioso que sempre remetia para o uso da lâmina. Apetecia-me gritar com ela, mas sabia que não era a melhor metodologia...
'Linda... Já superámos isto uma vez... E vamos superar quantas mais vezes forem precisas... Estarei aqui... Sempre estive... Mesmo quando fizeste este disparate...'
'Juntas?'
'Claro... Como da última vez!'

Como nunca, sentia-me culpada por tudo o que acontecera. Era como se a vida da Alice estivesse nas minhas mãos... Um erro, era como que um corte profundo na inocência daquela pele...

domingo, 15 de novembro de 2009

14. Novembro. 2009

Os planos pareciam carregar melancolia, mas na verdade até acabaram por ser, de certo modo, proveitosos.

Tal como combinado, quatro das amigas da minha mãe e os respectivos filhos vieram cá almoçar.

Por entre os presentes, haviam duas estranhas ao meu olhar. Nunca as tinha visto antes mas à primeira vista, percebi que nada tinham em comum: a filha era completamente o oposto da mãe. Enquanto que a mãe era sofisticada, irritantemente sociável e conversadora, a filha preenchia todos os antónimos que se pudessem aplicar à sua mãe.
Assim que chegou, encostou-se a uma das paredes da sala, onde apoiou uma das botas e ali ficou com a sua música, escondendo a face por entre a escuridão dos seus cabelos emaranhados. Pela primeira vez, numa das festas em que a minha mãe tanto exige a minha presença, eu não era a única estranha...
Encontrava-me no outro canto da sala e pouco podia fazer para captar a sua atenção. Aquela atitude intrigava-me e ali permaneci a observá-la. Sabia que, mais tarde ou mais cedo, aquela postura teria que ceder. E assim foi.
Levantou a cabeça e observou o que a rodeava com um ar de desagrado, e assim que fiz parte do seu campo de visão, fitou-me com rancor, ódio, amargura e raiva. Tudo isso me tirou do sério, mas mantive a minha imparcialidade.

Enquanto almoçávamos, todos falavam agitadamente, menos eu e aquela "miúda estranha" que ali não parecíamos pertencer. Assim que acabámos, sentia-me intrigada e sufocada com os olhares arrasadores que me foram enviados, o que me levou a ir apanhar um pouco de ar. Nesses instantes, a "miúda estranha" sumiu.
Procurei-a em todos os recantos susceptíveis a refúgio... E nada!
Apenas quando fui buscar uma camisola ao meu quarto a encontrei. Ali estava. Imóvel, sentada, especada a olhar para uma das paredes.
'Provavelmente este seria o último lugar onde te procuraria...'
'E porque me havias de procurar?' perguntou num tom um tanto arrogante ainda sentada no chão abraçando os próprios joelhos contra o peito.
'Não sei... Diz-me tu... E já agora, posso saber o que fazes aqui?'
'É o teu quarto, não é?'
'É!'
'Logo vi... Reparei que eras a única que estava completamente alheia a tudo durante o almoço... Achei que o teu frete era tão grande quanto o meu. Por isso, achei que compreenderias e me deixarias ficar por aqui...'
'Claro... Fica o tempo que quiseres.'
Como forma de agradecimento, levantou-se retirou um pó branco do seu bolso e dirigiu-se até mim com ele.
'Não, obrigada!'
'Nem sabes o que perdes!'
'Perco o início do meu fim... Sabes, se fosse droga leve, eu ainda compreendia. Mas, isso? Isso é demais, miúda! Não te esqueças que depois pode ser tarde demais... Ainda estás a tempo de mudar o teu rumo... Qual é o teu nome?'
Após acender um cigarro respondeu: 'Uta. Mudei-me para cá há pouco. Estava a precisar de renovar as companhias segundo a minha mãe.'
'Uta, sei que não poderei tomar o lugar dessas companhias, mas se precisares de alguma coisa, já sabes onde moro...'
'Obrigada...'